Caveiras, Project Plateau e perfeição.
2012 foi um ano em que as estampas de caveira tiveram (mais) um boom e se fizeram onipresentes na sociedade de consumo. Também foi o ano que eu conheci comida mexicana através da Lara, o que rendeu mais estímulos visuais caveirosos ao meu repertório. Nesse contexto, comecei esse desenho. A intenção era fazer uma caveira se maquiando para o Dia dos Mortos em frente a uma penteadeira antiga, como a que tem na fazenda do meu avô.
Uma vez definido o plano do desenho comecei as pesquisas. Me muni de livros de anatomia e cultura mexicana e fui entender as formas, cores, proporções e tudo mais que considerei necessário para a ilustração. Desenhar o esqueleto humano é uma tarefa muito ingrata, diga-se de passagem. A natureza fez um trabalho de encaixes que resultou numa estruturação firme, versátil e medonha.
Enquanto tudo era ideia, era lindo; enquanto tudo era estudo, era lindo; dai chegou a tal da execução. E é aqui, meu bem, que o Project Plateau abre as portas e diz “manda pra cá!”.
Project Plateau é aquele lugar pra onde nós jogamos nossas ideias assim que acaba o momento da euforia — depois que elas já alimentaram nosso ego e nos fizeram sentir especiais, quando elas começam a demanda por atitudes que vão levá-las adiante. Aí a gente se desanima e diz que tá meio sem tempo, que foi bom enquanto durou e que aquela ideia nem era assim tão boa.
O Gab Gomes fala disso nesse vídeo, recomendo ;)
Meu Project Plateau tá cheio, essa é a verdade. E nem só por preguiça eu encho ele, tem outro fator igualmente importante: o medo da falha e da imperfeição.
Foi por isso que há quatro anos eu parei, depois de fazer um terço do desenho mas com medo demais dos metatarsos não ficarem bons o suficiente.
Quando reencontrei essa imagem, depois de um tempo, dei uma risadinha interna. Olhava pra ela e já não via mais um plano de uma caveira mexicana não finalizada, via um retrato de mim. Narcisista que sou, de tanto me ver nela comecei a gostar cada vez mais, dizia pra mim mesma que a conclusão dela era ser incompleta.
Passou mais algum tempo e eu entendi que isso de 'se não vai ser perfeito, melhor nem fazer' não é definitivo na minha identidade. Pode ser até resultado do meu mapa astral, reflexo do meu número no eneagrama ou uma coisa da geração Y (?) mas ainda assim é só mais um vício comportamental que eu preciso trabalhar.
Hoje não me engano mais, sei que o amor pelo inacabado esconde a esperança por perfeição.
Tudo ilusão.